Estou vendo algum caso de homem tomando o nome da casa da mulher ao casar. Nom o oficial, mas sim o popular, o de uso cotiám.
Nos países ango-saxónicos -e nom só- como os EUA ou o Reino Unido é o mais comum a mulher tomar o patronímico do seu marido quando casam. Felizmente aqui nom fazemos isso. No Québec ou Grécia até chegaram a
o proibir.
Mas ao revês, acontece? Em Japom hai casos (poucos,
4%) em que homem toma nome da família da mulher, por exemplo quando el casa para umha casa na qual as filhas som todas
mulheres.
Agora, o inaudito: até nos próprios países anglos hai homens que
o fam por motivaçom
política.
Pois trabalhando no meu próximo livro -umha obra coletiva- nom dava identificado umha das fontes porque nom me coincidiam os dous apelidos do homem em questom co nome da casa (do Rego) que acompanhava coloquialmente o seu primeiro nome (Paco).
Explico-me.
No mundo rural, o teu nome de uso cotiám nom é o apelido, chamam-te polo nome da casa,
Fulano de Tal, sendo
Tal o nome de teu avô, bisavô, etc.
O nome da casa pode ser:
- nome próprio (e.g. Pepe de Luis)
- ofício (e.g. Andrés do Sapateiro)
- topónimo (e.g. Inés da Ramalhosa)
- alcume nom despectivo
Este é o nome que che pedem se che perguntam o clássico "E ti de quem és?" ou "E ti de quem ves sendo?"
Ninguém se interessa polos teus apelidos.
E a mim nom me quadravam os apelidos del coa casa e era por um caso assim: Francisco Calvo (Paco do Ferreiro) casa com María García (María do Rego) mas nom é ela quem vai morar a Cas' do Ferreiro senom que
el casa
para Cas' do Rego e passa a ser tratado polos vizinhos sempre como Paco do Rego. Apesar del nom ter nascido com ligaçom de sangue coa casa senom chegar a ela via matrimonial.
E até aqui a anedota antropológica do dia.
O
Cas' galego tem certos paralelismos por aí: o
chez do francés, o Ca' do véneto... e pode ir acompanhado por nome próprio ou polo contrário por sintagma com substantivos:
- Mamã vai em Cas'Loureiro*
- Estou em cas' meus sogros
*Lembremos que o nome do
clam pode nom ser o apelido da família.
Temos que conservar os nomes das nossas casas e levá-los com orgulho, que nom hai cousa mais bonita.
Luís P. Castelo conta-me do seu nome de família e isto lembra-me duas cousas adicionais.
Primeira, às vezes os nomes mudam de género. P.ex. hai umha família que se chama Cas' Ribeiro e em determinado momento para te referires à avó e a nai e a filha da casa porque, pondo por caso, as vistes as três nom sei onde, dis "Vim as Ribeiras". Este giro -que me lembra como
os apelidos têm género em russo- pode ser pontual ou permanente. Se nos pomos no caso de que morreram os patrões da casa, avô e pai, e fica a casa com peso quase total feminino,é natural que se passe de se dizer
Cas' Ribeiro a dizer-se As
Ribeiras. Outro caso é se a família só tem umha filha e esta pola sua vez só umha filha de solteira, ficando na casa só duas mulheres. Em situações assim em vez de "-Falastes cos de Cas' Ribeiro de tal cousa?" diria-se "-Falastes coas Ribeiras de tal cousa? -Falei". Ainda lembramos umhas prezadas vizinhas, de apelido e nome de casa -neste caso coincidiam ambos- Novás, às que todos conheciam por
as Novasas.
Segunda, frequentemente existe um nome aceitado socialmente e outro "mal nome", que nom se usa em presença dos afetados. Os
alcumes quando som maus (o Mata-cães, o Porco) nom se vam usar abertamente para dar nome à casa, mas tamém é certo que passado tempo pode que os parentes nom se ofendam porque lhes chamem por esse termo. P.e. Cachám é palavra que pode
referir um homem mui mulhereiro mas aos da casa nom lhes parece mal porque o significado se perdeu no tempo. Ou imaginemos que a família que por respeito se conhecia como Cas' Ramom e que o senhor era tam religioso que quando el nom estava diante lhe chamavam o Santeiro e se falava de Cas' do Santeiro. Pois passadas duas gerações é provável que aos seus descendentes nom lhes pareça mal que lhes digam que som do Santeiro. Especialmente se a referência, menos particular, ao nome
Ramom já nom é útil para os e as identificar.
Finalmente, tenha-se em conta que o termo
apelido é polisémico em
português: pode significar tanto alcume/
alcunho/alcunha ou, ao igual que na Península Ibérica toda, significar nome de família (em Portugal dito tamém
sobrenome).