Em recordo dos emigrantes

Este ano cometim o atrevimento de fazer-lhe umha pequena homenagem gráfica a umha presa de homens e mulheres da nossa paróquia que emigrárom ao Brasil a meados do século passado. Alguns mui estimados na nossa casa, gente boa que trabalhou cos nossos e nalguns casos merecia bem maior fortuna da que tivo na vida. Eu nom som ilustrador nem caricaturista mas quase sem me dar conta vim-me desenhando a lapis os seus retratos do tempo em que cruzárom o oceano para buscar o seu porvir.
Pugem-lhe como lhes chamavam, nom os nomes dos documentos oficiais de identidade.
Em recordo dos emigrantes


Así cribabamos o trigo e mais o centeo onde está a cancela porque corría ben o aire do norte.
Primeiro había que erguelo para que as arganas -o envoltorio do gran- voaran. Despois cribábase.



podia ter terminado como mais outra história de fracasso total mas felizmente após cerca de trinta anos ainda nom se perdeu completamente a arte... funciona!

Work in progress

O cavar era um dos trabalhos mais duros. As mãos à noite ardiam por dentro, nom sabes? É que, aquel dia, o que mais e o que menos fazia o que podia. Porque ali se fazias o preguiceiro... Deixavas-lhe o seu eito e dizias-lhe:
Cava; que se nom, quedas atrás.
Deixavas-lhe a parte que lhe tocava.
Depois vínhamos por aí cantando. Cando chegávamos do trabalho [à casa da roga] colgávamos as chaquetas velhas que levávamos por cima, cheias de terra.

Conto de Natal que nom o é e ademais foi verdade

Um Natal de hai 65 anos umha família nom tinha um peso, umha peseta, nada de nada para comprar nem para tomar. Só leite da vaca, da avoa Maria -quem todos os dias lho traguia da aldeia para a vila- e mais um golpinho de café.
A senhora Marina de Fuentes deu-lhes como presente umha caixa de bolachas e foi o que tivérom. Nem foi um Natal infeliz apesar de tudo, tomárom com humor a sua necessidade.

O céu tem que existir para gente como vostede, senhora Marina. Ali onde estiver, mando-lhe um bico.

Anónimos

Anónimos

Aparecem junto a ilustres personalidades galegas mas nom os tenho identificados. SFF se alguém os conhecer que me contate.

As escritas dos idiomas mudam (VI)

Escrita dos nomes José e Teresa numha paróquia galega ao longo do tempo segundo anos de nascimento:

Joseph x56 1680-1800
Josef x21 1780-1815
Jose x281 1780-2000

Theresa x14 1700-1815
Teresa x77 1685-1975

Ambos exemplos só considerando nome de pila de umha única palavra, nom compostos.


Esta foto mandárom-ma desde Buenos Aires, é a agrupaçom musical em que o avô tocava o tambor ou o bombo, ainda que el nom está na imagem. Disque é de 1941, daquela el seria um moço duns 17 anos. Começara de miudinho com eles, que eram mui maiores.

Na fotografia, de esquerda a direita, supra:
1º Eduardo Alcaina Canosa
2º Alfredo Lema Campos
3º Venerando de Eirín, de Orujo
infra:
4º Carrera, de Mogia
5º Rogelio da Barbeira, de Mogia
6º Manoel Lema Campos

Primos do avô, 2º e 6º som, segundo o seu nome de casa, Alfredo e Manolo de Roel (curioso como escrevemos com O mas sempre pronunciamos como U), irmãos e filhos de José Lema (Roel) e de Carmen Campos Campos.

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Em 1939, no exílio além do oceano e depois de terem tido Barcelona como última morada, o casal formado por Afonso Daniel Rodríguez Castelao e Virxinia Pereira Renda, junto co seu secretário Luís Soto Fernández, viajam no vapor Oriente que vai de Cuba para os EUA.

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Castelao tinha o cabelo e os olhos castanhos e media 1.77 de estatura. Virginia, 1.57 m.

A persoa mais próxima para eles no momento devia ser o seu amigo Avelino Rodríguez, que os deveu hospedar na Havana, aqui:

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Figeram um percorrido por Cuba antes de voltarem aos Estados Unidos:

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Este seria o hotel em que se hospedaram em Nova York:

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Precisamente nessa cidade e nesse ano expedirá-se-lhe a Castelao o passaporte co qual seis anos mais tarde viaja desde a Argentina ao México atravês do Brasil:

As histórias que contam os registros de migrantes (II)

Antergos de primeiros do s. XVII

1614 e 1606. Datas de nascimento dos meus antepassados mais remotos de quem tenho notícia graças à investigaçom del mio padrone. Dá vertigem.

Com Domingos, o primeiro, galego, ainda partilho apelido. Co segundo, Vicent Benet, nom, perdeu-se coa minha tataravoa valenciana.

Porém a linha completa até Vicent tenho-a, enquanto o quebra-cabeças para chegar a Domingos está incompleto desde o tataratataratataravô (o avô do avô de meu avô) para trás e a data mais remota registrada nesta linha é 1780, o que, para quem investigamos este tipo de cousas, vem sendo "antes de ontem pola tarde".
A primeiros do século XX (e noutras épocas talvez tamém, mas que eu saiba) os pobres escapavam, alguns para América, para nom servir ao Rei. Em represália, os nomes -e os de seus pais- eram publicados nos jornais como fugidos da justiça. Vejo-o ao estudar história local, dam todos os dados: nome, filho de quem era, natural de onde, ofício, até a estatura; ameaçam com declarar desertor e demais penas.
Ontem entrevistei um senhor de mais de setenta anos que ainda fala de seu pai co arcaísmo "mi padre".

[insira aqui emoji de gatinho com corações nos olhos]

Umha pequena mostra de dados de maternidade nos últimos séculos

Nom tem por que ser representativo o que sei, mas umha das cousas que mais me chama a atençom de trabalhar com dados de populaçom som as idades da maternidade. Tinha o prejuízo de pensar que, de hai um século para trás, as mulheres teriam filh@s mui novas, mas os dados dim-me o contrário. Se tomo como mostra a margem 1900-1950 as idades de parto vam dos 22 (mulher nascida em 1901) a 41 anos (1902). No meio século anterior (1850-1899) a idade mínima é 18 anos (n. 1861) e a máxima 47 (1854), com valores superiores, estatisticamente anómalos, pendentes de contraste. Hai muita maternidade serôdia, p. ex. vistas três mulheres do mesmo ano (n. 1872): umha tem 3 filh@s dos 30 aos 36 anos, outra 29-40, outra 28-35. Começavam a ter filh@s sendo mulheres feitas e direitas e tinham-nos até tarde. Isto rompe-me por completo os esquemas. Manel Vilar aponta-me que haveria que ver o gráfico da distribuiçom, para valorar além dos extremos, e é certo, mas limito-me a indicar as idades às que tinham a primeira e a última criança todas as mulheres que tenho registradas com data de nascimento, que nom som poucas. E nestas, os rangos de idade som todos similares. Quanto à distribuiçom, nom figem ainda média interpartos mas polo que tenho visto, de memória adianto que era bastante regular, arredor de dous ou tres anos entre um parto e o seguinte. Mar Fernández di-me que, se lembra bem, Marvin Harris dava idades da época vitoriana para o primeiro período nos 17 ou 18 anos e falava tamém doutras épocas com registros, como a Roma clássica, e a sua interpretaçom era similar à que estamos coligindo aqui, que nunca foi normal a maternidade adolescente. Eu a priori associava a maternidade adolescente de que soubem nas décadas dos 1970-80 ao atrasso ou descuido, mas nom teria suposto que a data do primeiro período fosse tam condicionante; pergunto-me que parte dos dados de maternidade refletem fatores biológicos e quais condicionantes sócio-culturais. Ainda assim, falamos quase sempre dos 18 anos em adiante. Ser nai aos 40 anos, vistos os dados, era do mais normal nos s. XVIII-XX, mas nai adolescente só tenho de momento um único caso de 17 anos, e nengum por baixo desse tempo. Em qualquer caso, se vou por exemplo a dúas mulheres nascidas em 1791, umha foi primípara aos 28 e outra aos 35. E de 1806, umha mulher tem cinco crianças dos 26 aos 45 anos. Aí influi nom só o período, dá-me por pensar.

Quando as filhas levavam o apelido da nai primeiro

Maravilhoso ver nomes de galegas do século XVII que levavam primeiro o apelido da nai e o do pai de segundo. Assim devia ser ainda, acho eu.

Investigando os apelidos vemos que, polo menos durante certas fases documentadas, podia ser que o apelido da nai o herdara a sua descendente ou descendentes, primando sobre o paterno.

Ainda pendentes de estudar mais polo miúdo e sistematicamente o fenómeno, José Enrique Benlloch del Río consultou o particular a Ismael Velo Pensado, autor entre outras de La vida municipal de A Coruña en el siglo XVI, La iglesia de La Coruña en el siglo XVI e A Ría da Pasaxe nos séculos XVI ó XVIII e da resposta, que achamos sintética e reveladora para colegas investigadores/as, citamos:

La norma es la costumbre del lugar (...) Hasta que aparezca el Registro Civil no se dieron normas para los apellidos. (...) En torno a la ciudad de A Coruña, en el siglo XVI los apellidos son arbitrarios y a veces también los nombres cambian con las situaciones de las personas; en el siglo XVII los hombres reciben el apellido del padre y las hijas de la madres; en el siglo XVIII todos reciben dos apellidos, el primero del primero del padre y el segundo del primero de la madre. Esto sirvió para la normativa del Registro en el siglo XIX.
Levar bases de dados com referências persoais tem momentos tristes como quando processas casos de mortandade infantil, que em séculos anteriores era abraiante. Aí som dados frios... vês os nomes de todas aquelas crianças e as que devérom passar seus pais... Porém, tamém hai momentos menos amargos: a alguém mui querido morreu-lhe umha irmã com dezenove anos. Hoje nem hai memória viva da sua simples existência. Porém agora já está no livro da família.


Ah, a emoçom de decodificar linguagens arcanas de hai mil-- ...!

--bom, dacordo, só é castelhano de hai século e meio...

A roga

A roga (3) era um mecanismo de reciprocidade essencial no funcionamento laboral-social do nosso país na sua história agrícola.

Consistia no princípio de ajuda e assistência mútua para labores no campo que excediam a capacidade em recursos humanos dumha casa, em funçom da relaçom vizinhal e geográfica.

Quer dizer, dependendo da relaçom de proximidade entre as famílias e os lugares (ou até paróquias), a participaçom que se oferecia ou dava era maior ou menor.

Em termos de matemática discreta, a teoria dos grafos é ideal para representar essas relações inter-locais com grafos dirigidos ou nom, conexos ou nom

Ex. verídico:

A roga

- vértices: lugares da paróquia
- arestas: relações entre os lugares em termos de roga, com umha quantificaçom numérica do peso do vínculo

língua: expressom "rogar com" pode ter conotaçom +|-
rogar com algo pode significar oferecimento sincero
ou contrariamente compromisso a evitar

1) ex. "Nom me quigestes a rosca q figem quando che roguei com ela ..." [= oferecim-cha por bem] "... e agora nom tenho mais"

2) ex. "Anda aí rogando-lhe a Fulana co seu sobrinho ..." [= vendo se lhe mete umha cunha] "... para ver se lhe dá o trabalho" [ao sobrinho]

Voltando ao 1º tweet, neste artigo usam o termo: voluntarias plantarán nunha roga centos de bidueiros, carballos, ...

As nais solteiras

Hoje dizia umha ministra que o 85% das famílias monomarentais som mulheres com filh@s.

Em pequeno estudo que estou fazendo, hai 200 anos eram o 100%

Desde entom para acó, dous exemplos:

  • Três gerações:

    • J. nasceu em 1875.
    • F., sua nai, tivo-o como solteira.
    • F. pola sua vez era filha de M, igualmente nai solteira.

  • S. nasceu em 1903. Seu pai e sua nai foram filhos de solteira.


Nom se podem assumir causas paternalistamente: a gente podia nom ter pai por diversos motivos. Porque era casado, porque nom o reconhecia por esse ou por outro motivo, porque era crego...

Entom sim, havia filh@s trás da silveira, obviamente, mas tamém havia voluntariedade: mulheres que queriam filh@s mas nom um/esse homem.

Total, às vezes parece que só agora se inventou a pólvora, mas lembrai: os/as antig@s podiam ser mui modern@s... e em contornos rurais podiam ser muito mais tolerantes com famílias com um único progenitor(a) que em sociedades urbanas/posteriores (!).

Já o dixo Ramón Suárez Picallo:

La madre gallega soltera. Soltera. La muchacha que tuvo noviazgo con un soldado que marchó al África. La muchacha que tuvo noviazgo con otro que se marchó a la América, consternado por no poder, o por creer que no podía montar, un hogar. La muchacha, en fin, que se quedó sola con su hijo. Solo hay dos países en Europa en que esta mujer es respetada y no es menospreciada por nadie. Son Austria y Galicia. (...)