Surpreendeu-me que umha obra ambientada numha distopia optasse por umha certa ingenuidade, o próprio final da história vai um pouco por este caminho. Impressionou-me o esquema de partida pola sua simplicidade e enorme potencial, mas vê-se que estou mais afeito a que premisas análogas derivem em argumentos realmente truculentos. Contudo, como leitor assumo a escolha da autora nesses termos e, ainda que o estilo gráfico dela e elementos do relato nom som habituais nas minhas preferências, considero este título entre as melhores BDs editadas em 2022.


Normalmente nom me resultam interessantes os trabalhos artísticos que, sendo produto de umha subvençom-estadia, dam demasiado peso à vivência particular da bolsa em si. Nesses casos o fim e o meio confundem-se, dando como fruto umha mistura entre o costumismo mais ou menos anódino e aquilo outro que o autor pretendia ter alcançado. Esta forma de autorretrato com pretexto é algo similar a essas histórias curtas de BD em que o criador se deleita na dificuldade de fazer a própria BD: nom tem ideias para o relato e entom fai o relato sobre nom ter ideias. Um recurso pobre. Polo contrário, as melhores obras derivadas de bolsas tratam sobre algo totalmente alheio ao autor e/ou às suas circunstâncias particulares nesse processo. Na casa dos autores de Angoulême tem havido muitos exemplos deste ótimo fim. Por muito que ficcionar, para mim n'A jovem e o mar Catherine Meurisse, ajudada por umha bolsa em Japom, conta-se entre os autores que escolhem a primeira opçom e falham totalmente.

Meio já contava com que, após namorar dessa maravilha intitulada Os grandes espaços -pola qual ainda fico grato-, havia um sério risco de me defraudar o seu seguinte título. Umha persoa culta como ela maneja-se com soltura no conhecimento do meio natural (nomeadamente, a flora) e das referências artísticas cruzadas entre Oriente e Ocidente mas, apesar da sua graça dialogando e desenhando, o álbum simplesmente fica demasiado no terreno dos lugares comuns: aqueles que ninguém podemos evitar na nossa primeira visita ao Japom (eu igualmente, e com isto nom me atrevo a comparar-me com umha autoraça como Meurisse). Nom obstante a alguém da sua escala de talento e experiência temos-lhe que exigir bastante mais que um percorrido sem rumo por clichés como o ukiyo-e, as paisagens, os haikus, os maremotos, os toris, Miyazaki, as lendas, os falos da fertilidade... Visto tudo, parece um poutpurri, um "grandes êxitos" dos estereótipos.

Em sumário: confirmada a decepçom total.


Deitado na cama um fulano rói nos miolos enquanto a sua parelha dorme ao lado. 200 páginas. Simplificando muito.
Kevin Huizenga é capaz de algo inusual: fazer BD de qualidade que ao mesmo tempo pode por momentos resultar inaturável.
Embora ser do ano passado já hai quem vende o seu exemplar deste livro ao -33% de PVP, nom estranha porque pode pôr no límite a paciência do leitor inadvertido.
Fora disso, o autor desenha bonito (conjeturo que inspirado nos mestres fundadores dos comic strips dos EUA dum século atrás) e narra/compom -aqui nom hai distinçom- nas suas páginas permanentemente explorando e ampliando as possibilidades da linguagem da nona arte, um logro que nom está ao alcance de qualquer.
Acho que nom lia nada de Huizenga desde 2008 -já choveu: Maldiciones (La Cúpula)- e diria que desde entom tanto os seus defeitos como as suas virtudes, na sua análise do espaço-tempo/a existência/o trascendente/o macro desde o intimismo/doméstico/o micro, só se têm enfatizado.
Um caso realmente atípico.
Talvez só apto para iniciadxs (?).