Jason é um autor súper agradecido de ler coas suas histórias de animais antropomórficos "mais humanos que os humanos", personagens hieráticos que tentam sobreviver fisica e animicamente em relatos entre o dramático e o ridículo (ainda que o humor é sempre contido). Até quando lhe bota muito papo nos desenlaces argumentais (p. ex. botando mão do surrealismo) o autor norueguês normalmente cai de pé, como os gatos, e deixamo-nos convencer.

Estes dous volumes de histórias breves som entretidos, nom se contam entre o melhor da sua produçom mas polo menos nom som tam péssimos como a sua BD do Caminho de Santiago (que passa cos comics de El Camino? som todos igual de horríveis?)

A guerra nos cómics

Nom tenho nada de experiência na revisom por pares mas meio contribuim a umha peer review hai pouco, que tratava sobre a banda desenhada como ferramenta para a análise de conflitos bélicos em retrospetiva histórico-pedagógica. Nom considero que aportasse muito, ao desconhecer os títulos analisados, nom publicados em nengum idioma que eu saiba ler, mas chamou-me a atençom que nas conclussões do escrito se considerasse a BD como suscetível à manipulaçom e distorçom ideológica no seu reflexo das guerras do século passado. Como se qualquer arte, nomeadamente o cine e a literatura, ou qualquer tipo de suporte comunicacional, como os ensaios, nom fossem presa dos sesgos políticos mais burdos ao refletirem os atores e eventos da guerra. Lembrei-me de várias obras que demostram que a BD pode nom só desmitificar senom abordá-las com claridade, sentido comum e nulo chauvinismo. Umha delas é 総員玉砕せよ! do mestre Mizuki, editada em inglês (Onward towards our noble deaths), espanhol (Operación muerte), francês (Operation mort) e italiano (Verso una nobile morte).

A guerra nos cómics
A guerra nos cómics

Astiberri, a editora em castelhano, fai este sumário do argumento: Shigeru Mizuki, con una acritud desconocida en él, pasa factura a la Segunda Guerra Mundial y, más concretamente, a la práctica del gyokusai (literalmente, “atacar hasta morir con dignidad”), un eufemismo para evitar decir crudamente lo que era: una ofensiva en la que todos los atacantes debían morir. Hábilmente, y sin caer en la caricatura, Mizuki describe el repugnante desprecio por la vida humana del mando militar nipón. Sin razón válida o sentido estratégico alguno, los jóvenes soldados eran enviados a la muerte con la expresa prohibición de volver vivos bajo pena de ejecución.

É umha obra valiosíssima, para mim por riba até da extensa e maravilhosa autobiografia do creador do clássico Ge ge ge no Kitaro, e só comparável no meu critério coa sua obra mestra Non Non Ba.

Outro trabalho que, inesperadamente este, trata a guerra dum ponto de vista totalmente apatriótico é Mi vida en barco (título espanhol de Gallo Nero). Na parte final deste extenso livro (624 páginas) que ainda acabei de ler ontem, Tadao Tsuge, sem advertência prévia, trata o papel do Japom na II Guerra Mundial, em dous capítulos mui avançados da obra (o volume tem 38 episódios). E fai-no com umha naturalidade pasmosa: um grupinho de velhos falando, simplesmente, isso é tudo. Com sinceridade os homens intercambiam lembranças e impressões que distam muito de narrativas imperialistas e etnocéntricas.

Som apenas dous exemplos do poder que tem a BD para enfrontar questões complexas sem cair na trampa do partidismo nacional e retam a afirmaçom que motivava este meu comentário em primeiro lugar.

Menos mal que não o comprei porque com esse final ia ficar com cara de parvo… Se alguém entendeu a segunda metade agradeceria que ma explicasse.

Sempre tive a sensação de que, por ser de onde é e “de quem vem sendo” o autor, uma obra como esta tinha que acabar chegando. O primeiro volume sai à venda este mês.

As bandas desenhadas que leva este volume foram feitas em 1966 mas são tão frescos como se fossem de hoje à manhã. Pode que o meu reverenciado Tezuka seja o maior autor que o Japão tenha dado, mas em termos de preferência pessoal, para mim Mizuki é uma debilidade ainda superior.

Diz-se que nom hai Tezuka mau e bem pode ser umha verdade absoluta. Eu o dia que ler um livro del do que nom goste aviso ^__^ Pode haver alguns que me prestem menos -caso de “A cançom de Apolo”- ou outros mais -a maioria- mas sempre têm algo.


Este “Alabaster” que Astiberri acabou de publicar, um grosso volume de quase quinhentas páginas, nom é excepçom a essa regra; mesmo, estava-me resultando umha leitura agradável sem mais, até a página 345; nom sei bem por que, nesse quadrinho tam simbólico em que a coprotagonista seduzida polo poder da escuridade fala com seu irmão baixo a chuva e se vai diluíndo, me resultou um ponto de inflexom. Se até o ponto a história já era umha loucura, nomeadamente a do personagem que dá título à obra, a partir daí já me pareceu tudo encosta abaixo e sem freios. As páginas dos cavalos esqueléticos, o atentado na festa da casa da atriz, a própria ideia histriónica dum Alabaster-mobile, a maqueta da capital do “novo mundo”… Umha verdadeira explosom de imagens, culminada num desenlace com algum giro argumental hilarante -aínda que o autor nom o pretendesse-. Nom em vam, nom hai Tezuka sem a sua componente naïf. É parte da sua graça, e imagino que em muitas circunstâncias tamém devia ser umha virtude criativa sua, esse ir para a frente sem mais. Tu escreves um argumento e as dúvidas som frequentes -isto nom tem lógica, aquilo é mui forçado, tal cousa nom encaixa- mas Tezuka fai como um menino inventando umha história: avante toda. Nos casos em que a história acaba por nom convencer-me nada (passou-me co “Cenizas” de Álvaro Ortiz, um dos melhores historietistas espanhois atuais) esse processo de encadeado causa-me a sensaçom dumha fugida para adiante. A Tezuka aqui e noutros trabalhos desculpo-o, nom sei bem por que.


Contudo, sendo de quem é “Alabaster”, nom me pareceu umha cousa do outro mundo, em parte porque na primeira metade (e em algo tam extenso é muito dizer) nem el próprio parece tirar-lhe todo o partido ao potencial da invisibilidade como arma e conceito. Mas em conjunto é, como quase quanto el fixo, um trabalho com personalidade: a sua e a dos protagonistas.


Polos vistos apresenta-se este título, que data dos primeiros anos setenta, como um dos mais escuros do autor, eu nom diria tanto do que levo lido, mas sim que se recreia na dualidade bem/mal especialmente personificada na figura central, além da moça que a el se adire e à némese de ambos, o agente policial que os persegue, deixando Tezuka o sentidinho para os secundários de ambos lados da lei.

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