
Jean Giraud, Moebius, podia desenhar o que fosse. Que maravilha. Neste caso participou na série de espionagem XIII, criada por William Vance e Jean Van Hamme. A versão irlandesa -incidentalmente com um muito infeliz desenho tipográfico na capa original de Dargaud, erro não propagado por Norma Editorial na edição espanhola- é um álbum que se inspira num militante imaginário do IRA que se vê implicado nos anos mais duros da repressão britânica de Irlanda do Norte. Depois a história deriva para os EUA, entroncando com o fio argumental da saga XIII. O labor de Giraud nesta história é simplesmente perfeito. Era um artista sem medida, talento ao serviço das suas próprias obras de
fição científica, western, … mas que podia além disso realizar
trabalhos, com a mesma dedicação, para séries e personagens alheios, como o Silver Surfer da Marvel, mão a mão com Stan Lee. O curioso é que nenhum destes trabalhos desentoa na bibliografia do reverenciado ilustrador. Todos fazem parte duma trajetória caraterizada pela qualidade e o amor pelo trabalho bem feito, sem reservas.
Depois da filmografia de Sergio Leone e do Blueberry de Charlier e Gir fazer um western visual com personalidade própria e qualidade das que marcam época está bem mais difícil. Em BD gostei do Gus de Christophe Blain, que é realmente original, e do filme The missing com Tommy Lee Jones, embora não ser especialmente popular, mas não me diz nada o que faz por exemplo Tarantino, a anos luz, para o meu gosto, do logrado por Eastwood nessa obra mestra que é Unforgiven. Considerado tudo isso e mais que Jodorowsky frequentemente me deixa frio, não esperava muito do primeiro Bouncer, mas a verdade é que é um trabalho sólido, com a vantagem de ter um mestre consagrado como Boucq na arte, embora esses lábios carnosos e enormes narizes que desenha sejam de pesadelo :-P
Lerei a meia dúzia de volumes da série mal tiver oportunidade.
A imagem procede de itunes, onde vendem a seis euros a edição eletrónica em francês, ainda que eu li a versão espanhola, em papel, de Norma Editorial, cortesia da biblioteca pública.