Um dos melhores usos da metalinguagem que tenha visto. Fai aparentemente fácil, da ótica da leitura, o que em realidade é bastante complicado de articular em termos criativos.
Simpático, acessível, imaginativo e aliás com mensagens para os leitores que já nom som crianças pequenas.
É curioso que descobrim a série num número de Spirou de 2019 mas só foi agora ao ler a compilaçom em forma de álbum que apreciei o trabalho na sua justa medida.
E o detalhe da página recortada já é o outro nível fora do comum.


Obra que data de 1969-70, algo irregular mas da que gostei muitíssimo. Estruturada episodicamente como a minha favorita do autor, Black Jack, soma catorze relatos principalmente independentes que nom obstante mantêm como fio condutor a protagonista, capaz de adotar a apariência de quem quiger, e um coprotagonista que exerce de chefe dela. Um dos trabalhos de Tezuka que mais desfrutei apesar de provavelmente nom ser dos seus melhores.


Nom podo afirmar nem supor que foi a melhor BD feita em Espanha o ano passado mas gostei. Mais, de feito, que os outros dous brugueriano/vazquianos a quem dei a ler (cuja frialdade na recepçom me surpreendeu).
Onde ia que eu queria pilhar este título, desde que saiu, e casualmente só agora que lhe dérom o Prémio Nacional conseguim. Da obra em si convencérom-me menos os insertos tipo documentário em que falam expertos/as na matéria que o relato delirante em si, ainda que entendo a decisom narrativa de empregar esse recurso.
Oxalá mais cousas de Sordo deste estilo proximamente.


Desfrutei muitíssimo da leitura e lamentei que a história acabasse. Adorei o trabalho de cenários e de desenho de personagens, como transmite a expressividade coletiva (os grupos e as massas) e individual (a linguagem corporal e facial) e tamém os diálogos sem concesom.

Em paralelo Isaac o pirata, a (para sempre inacabada?) saga criada por Christophe Blain, estivo todo o tempo na minha cabeça enquanto lia este álbum. Do seu autor, Frantz Duchazeau, penso que só lera, muitos anos atrás, Os cinco narradores de Bagdag, que tinha completamente esquecido, e Meteor Slim, de que gostei. Entom nom sei se é que ambos autores, Blain e Duchazeau, bebem das mesmas referências e agora a ambientaçom setecentista de El pintor forajido me levou de volta para Isaac mas o caso é que esta história tem algo de reverso escuro daquela outra odisseia dum pintor sob a bandeira da caveira. Neste caso o protagonista é outro artista das telas, desenganado da revoluçom que terminou co Ancien Régime. É um homem descontrolado que se revira contra tudo: a sua esposa, os seus colegas das belas artes, os revolucionários, os contra-revolucionários, o povo vítima dum período especialmente violento... A BD segue a sua trajetória num voo sem retorno, abanando entre a sua perícia coa espada e o seu talento co pincel, ancorado na militância da máxima da arte como um fim em si mesma.

Aborrecim a legendagem da ediçom espanhola, a tipografia (a da ediçom original tampouco a vejo muito melhor) e a sua composiçom, além do erro grosso das linhas sobreimpressas na vinheta terceira da página 12 (algo impróprio dumha ediçom profissional).

Nom obstante a beleza hipnótica dos cenários naturais e das ruínas, até dos sujos decorados urbanos, que Duchazeau retrata, junto co remoinho tam apaixonado como autodestrutivo do personagem principal, lográrom fascinar-me completamente e encher esse buraquinho que ficara por mor da desapariçom de Isaac.

Desejaria que Le Peintre hors-la-loi tivesse continuaçom como puro exercício de ficçom se for preciso, quer dizer até além da figura real em que leio que se baseia o argumento, Lazare Bruandet (1755-1804).

Um apontamento final: achei soberbo o trabalho de cor de Drac, comedido e acertado a partes iguais nos seus tons planos, e nom entendo como nom consta na capa do livro, umha omissom de crédito exterior imerecida tamém em bastantes outros casos que conheço da BD europeia.