Obra autobiográfica, notável em volume e qualidade, sobre o sexismo em ambientes de trabalho de condições extremas onde só acabam persoas economicamente necessitadas. A autora fai uso de toda a capacidade comunicativa gráfica que treinou como criadora de banda desenhada humorística para agora contar umha história inçada de momentos chocantes. Umha leitura altamente recomendada.
Tal como os patos do título, presos na poluiçom das areias betuminosas, vivem e às vezes morrem os muitos homens e as poucas mulheres nesta indústria petrolífera. Operários das minas num estado de isolamento e alienaçom proclive à afetaçom psicológica e ao assédio sexual dos primeiros em relaçom às segundas. Kate Beaton, ilustradora mui apreciada polo público, desenvolve um relato autobiográfico compassivo (nom autocompassivo) no qual humaniza (nom desculpa) até os seus agressores para acabar por pintar um quadro tridimensional e nada simplista do impacto, primeiro humano e depois ambiental, da cara menos divulgada do sistema económico em que vivemos. A obtençom de combustível é feia de todos os pontos de vista e o custo persoal nom fica atrás. Em ambos casos, falamos de consequências duradouras.
Ao igual que tantos outros leitores, conhecim o labor da talentosa Beaton atravês das suas BDs em Internet, mas ao comprar e ler o seu famoso
Hark! A vagrant dez anos atrás, surpreendeu-me que me decepcionasse, ainda nom sei bem o motivo. Nom é que fosse mau, é só que nom me liguei co livro. A criadora, dotada de todos os recursos gráficos e narrativos necessários para abordar umha missom ao alcance só de grandes assinaturas, aqui deu um passo de gigante como autora. Já nom apresenta simpáticas BDs breves de humor com inúmeras referências culturais e históricas senom umha extensa novela gráfica (mais de 400 páginas) arredor do machismo tóxico no contorno laboral. Situada cronologicamente no alvorecer do Internet atual, a história fica muito mais amena que obras recentes de mestres do jornalismo em vinhetas como Joe Sacco porque, a diferença deste, o que ela conta se baseia na pura experiência íntima, direta e persoal, nom planificada, e nom tanto numha investigaçom profunda, profissional, organizada. Contudo lembrei-me bastante de
Paying the land e, apesar de serem tam distintos, acho que os dous livros funcionam mui bem juntos, como experiência leitora sobre o capitalismo extrativista, que afeta e destrui nom só ao Canadá e á América do Norte senom ao mundo inteiro.
Em resumo, história esclarecedora e mui bem contada. Kate Beaton, autoraça. Esperando já o seu seguinte livro.